Sexta-feira 13: História, mito e medo — de onde vem essa superstição?

A sexta-feira 13 é cercada de mistério. Associada ao azar, infortúnio e acontecimentos inexplicáveis, essa data é temida por muitos, evitada por outros e comemorada por quem desafia superstições. Mas afinal, por que a sexta-feira 13 se tornou um símbolo global de má sorte?

Nesta matéria, vamos mergulhar nas origens históricas, religiosas e culturais dessa crença, revelando como mitos, eventos reais e produções da cultura pop construíram uma das datas mais supersticiosas do mundo ocidental.


📅 A simbologia do número 13

Em várias culturas antigas, o número 12 é visto como símbolo de ordem e perfeição:

  • 12 signos do zodíaco,

  • 12 meses do ano,

  • 12 horas do dia e da noite,

  • 12 apóstolos de Cristo.

O número 13 surge como quebra desse equilíbrio, um elemento extra que desorganiza a “completude” do 12. Na numerologia ocidental, ele passou a ser considerado um número desafortunado, rebelde ou fora do padrão.

Acredita-se que essa visão tenha sido reforçada por mitos e lendas antigos. Um exemplo é a crença nórdica em que Loki, deus da trapaça, teria sido o 13º a chegar em um banquete no Valhalla, causando caos e desordem.

Assim, o 13 carrega simbolicamente o papel do elemento disruptivo, o imprevisível — e, portanto, assustador.


Sexta-feira: o dia da dor e do julgamento

Além do número, o dia da semana também tem um peso simbólico. Na tradição cristã:

  • Jesus teria sido morto em uma sexta-feira (sexta-feira santa),

  • Eva teria tentado Adão em uma sexta-feira (segundo tradição, essa data não aparece na Bíblia),

  • Caim teria matado Abel também em uma sexta, segundo interpretações medievais.

Durante séculos, a sexta-feira foi encarada como um dia de penitência e sofrimento, um dia de escuridão na liturgia cristã. Isso contribuiu para que a combinação entre o número 13 e a sexta-feira ganhasse uma conotação particularmente negativa.

Além disso, no folclore medieval europeu, era comum evitar iniciar viagens, casamentos ou contratos em sextas-feiras, por medo de má sorte ou intervenção divina.


⚔️ A Ordem dos Templários e a sexta-feira 13 de 1307

Um dos momentos mais marcantes ligados à sexta-feira 13 aconteceu na França, em 13 de outubro de 1307. Naquele dia, por ordem do rei Felipe IV, dezenas de membros da poderosa Ordem dos Cavaleiros Templários foram presos sob acusações de heresia, blasfêmia e idolatria — muitas delas forjadas.

Os templários foram torturados e executados ao longo de meses. Entre eles estava Jacques de Molay, o último grão-mestre da ordem, que teria amaldiçoado o rei e o papa antes de ser queimado vivo.

Embora a ligação entre esse evento e a superstição moderna não seja direta, alguns estudiosos e escritores esotéricos do século XX ajudaram a associar a data à maldição e ao infortúnio, reforçando o imaginário popular em torno da sexta-feira 13.


🎬 A cultura pop consagrou o medo

Durante o século XX, a superstição ganhou novo fôlego por meio do cinema, da literatura e dos meios de comunicação. Exemplos marcantes:

  • O filme “Friday the 13th” (1980) inaugurou uma das franquias de terror mais famosas da história, associando a data a assassinatos e horror psicológico.

  • Livros e programas de TV exploraram “coincidências sinistras” que teriam ocorrido em sextas-feiras 13, mesmo sem qualquer base científica.

Com isso, a data passou a ser usada como recurso narrativo e comercial, alimentando o medo e a curiosidade. Hoje, é comum ver memes, campanhas de marketing e até promoções temáticas em hotéis, cinemas e lojas em torno do “terror” da sexta-feira 13.


🧠 Medo com nome e tudo: parascavedecatriafobia

O medo irracional da sexta-feira 13 é tão conhecido que tem nome científico:
Parascavedecatriafobia (ou friggatriskaidekaphobia).

Embora possa parecer exagerado, há pessoas que realmente sentem ansiedade nesse dia, alteram rotinas e evitam compromissos importantes. Algumas empresas já registraram queda na produtividade e no comércio em sextas-feiras 13, tamanha a influência da superstição no imaginário coletivo.


🌍 E em outras culturas?

Nem todo o mundo considera a sexta-feira 13 um dia de azar:

  • Na Itália, o número de azar é o 17, pois na escrita romana (XVII) pode ser anagramado como VIXI, que significa “vivi” em latim — uma referência à morte.

  • Nos países hispânicos, como Espanha, México e parte da América Latina, o dia temido é a terça-feira 13 — com o ditado popular:
    “En martes 13, ni te cases, ni te embarques, ni de tu casa te apartes.”

Ou seja: a associação entre dias e números “amaldiçoados” varia conforme o contexto cultural e histórico, o que mostra que o medo é uma construção simbólica — não um fato.


🌕 Resgates modernos: de maldição a empoderamento

Nos últimos anos, movimentos de resgate da simbologia ancestral — especialmente ligados ao feminino e às tradições pagãs — têm buscado rever a carga negativa da sexta-feira 13.

Na Wicca e em outras vertentes neopagãs:

  • A sexta-feira é dedicada a Vênus/Frigg, deusas do amor e da fertilidade.

  • O 13 é visto como um número lunar e feminino, ligado aos ciclos da natureza e às 13 luas do ano.

Nesse sentido, grupos feministas e espirituais passaram a celebrar a sexta-feira 13 como um dia de energia, reconexão e força, subvertendo o medo imposto por séculos.


🧭 Conclusão

A sexta-feira 13 é um exemplo fascinante de como a história, a religião e a cultura popular se entrelaçam para criar mitos duradouros. Ao longo dos séculos, ela passou de coincidência numérica a símbolo de medo — reforçado por tragédias históricas e pelas narrativas do cinema e da mídia.

Mas, como toda superstição, ela revela mais sobre nossos medos do que sobre a realidade. E, talvez, justamente por isso, continue tão viva: porque a sexta-feira 13 nos convida a refletir sobre o que escolhemos temer — e por quê.


📚 Referências bibliográficas

BAKER, Richard. Friday the 13th: The story behind the superstition. London: Oxford University Press, 2012.
ESCOBAR, Rosa. Superstições Populares no Brasil. São Paulo: Vozes, 1999.
FREEMAN, Charles. The Closing of the Western Mind: The Rise of Faith and the Fall of Reason. London: Vintage Books, 2003.
KNIGHT, Christopher. Templários: A história secreta. São Paulo: Ediouro, 2004.
STUART, Nancy. The Culture of Superstition: A Historical Survey. New York: HarperCollins, 2005.

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