12 julho, 2021

Esparta e a Educação

Cena do filme "300"

A educação espartana, que recebia o nome técnico de agogê, apresentava as particularidades de estar concentrada nas mãos do Estado e de ser uma responsabilidade obrigatória do governo. Estava orientada para a intervenção na guerra e a manutenção da segurança da cidade, sendo particularmente valorizada a preparação física que visava a fazer, dos jovens, bons soldados e incutir um sentimento patriótico. Nesse treinamento educacional, eram muito importantes os treinamentos físicos, como salto, corrida, natação, lançamento de disco e dardo. Nos treinamentos de batalha, as meninas se dedicavam ao arco e flecha. Já os meninos eram especialistas em combate corporal, assim como em táticas defensivas e ofensivas.

Esparta e a educação - O código licúrgico 

Templo de Apolo, onde Licurgo inspirou-se para legislar.
Acredita-se, na verdade, que o código licúrgico, tanto no político como no educacional, resultou de uma gradativa adaptação dos espartanos às circunstâncias crescentemente adversas. Quanto maior era a resistência a eles na região onde viviam, na Lacedemônia, conhecida por suas sucessivas rebeliões e amotinamentos, mais os espartanos enrijeciam-se, mais militarizada tornava-se a maneira deles viverem Enquanto as demais polis gregas passavam por várias e diversificadas experiências institucionais e por diverso regimes políticos, tais como a oligarquia, a tirania e a democracia, Esparta aferrou-se num sistema de castas militarizadas e disciplinadas, dominado superiormente pelos espartacitas, a quem vedavam qualquer atividade que não fosse exclusivamente as lides castrenses, tendo os periecos como uma classe de colaboracionistas, ajudando-os na ocupação ou fazendo o papel de intermediários entre eles e os servos, e , no escalão bem inferior, os hilotas , os escravos da comunidade. Platão, num certo momento, definiu-a como uma timocracia, isto é governada pela coragem. 

A Agogê, a educação espartana 

Soldado Espartano
Em seu próprio significado, a palavra que os espartanos aplicavam para a educação já dizia tudo: agogê ( agoge) , isto é, “adestramento”, “treinamento”. Viam-na como um recurso para a domesticação dos seus jovens. O objetivo maior dela era formar soldados educados no rigor para defender a coletividade. Assim sendo , temos que entendê-la como um serviço militar estendido à infância e à adolescência. Sabe-se que a criança até os sete anos de idade era mantida com a mãe, mas a partir dos 8 anos enviavam-na para participar de uma espécie de bando que era criado ao ar livre, um tanto que ao deus-dará, onde terminavam padecendo sob um regime de permanente escassez alimentar para que desenvolvessem a astúcia e o engenho para conseguir uma ração suplementar. Adestramento muito similar ao que hoje é feito entre os regimentos especiais de combate contra-insurgente ou dos batalhões da floresta. 

Castigos físicos 

O pancrácio, a luta-livre dos gregos
Admitiam pois o ardil e o roubo como artifícios válidos na formação das suas crianças e dos seus jovens. Pegos em flagrante, no entanto, ministravam-lhes castigos violentíssimos, sendo submetidos a chiamastigosis ( chiamastigosis), às supliciantes provas de flagelação pública .
Dos 12 aos 15 anos instruíam-nos nas letras e nos cálculos e, naturalmente, no canto de hinos patrióticos do poeta Tirteu que ressaltavam a bravura e a coragem destemida. Na etapa final, entre os 16 e 20 anos, quando denominados de eirén ( eiren), um pouco antes de entrarem no serviço da pátria, eram adestrados nas armas, na luta com lanças e espadas, no arco e flecha. Então aumentavam-lhes a carga dos exercícios e a participação de operações militares simuladas nas montanhas ao redor da polis. Como observou Plutarco, o objetivo era de que sempre andassem “como as abelhas que sempre são partes integrantes da comunidade, sempre juntas ao redor do chefe... parecendo consagradas inteiramente à pátria.” 

Cultivando a excelência da força física, que fazia com que Esparta quase sempre arrebatasse os louros nos jogos olímpicos, atuavam em bandos liderados por um proteiras, um líder de esquadra, uma espécie de sargento instrutor, que lhes ensinava as táticas da arte da sobrevivência. A essa altura do agogê, perfilava-se o que Esparta desejava do seu jovem: silencioso, disciplinado , antiintelectual e antiindividualista, obediente aos superiores, vigoroso, ágil, astuto , imune ao medo, resistente às intempéries e aos ferimentos, odiando qualquer demonstração de covardia, fiel ao esprit de corps e fanaticamente dedicado à cidade. 

O cultivo da coragem 

O jovem deus estrangulando a serpente
Platão, ao comentar a educação espartana, observou que sua principal falha era exatamente a ênfase excessiva nos exercícios físicos , conquanto que a boa educação resultava de um composto da ginástica e da música, aqui entendida como a educação humanística em geral. Além disso, a obsessão militarista impedia-os de saberem conduzir-se em tempos de paz e mesmo em administrar sociedades conquistadas por eles que não tinham os mesmos valores deles. A ausência de elasticidade os fazia perder. A crítica maior, porém, dirige-se ao objetivo final disso tudo que era a de desenvolver exclusivamente a coragem ( thimos). O jovem, transformado num menino-soldado, não teria receio de nada que envolvesse as artes militares, as manobras em campos de batalha ou as ameaças dos inimigos da coletividade. A coragem, antes de tudo, era uma obsessão espartana. Por conseqüência não apreciavam nenhum tipo de tolerância, nem desenvolveram sensibilidades outras que os tornassem mais humanos e cordatos.


Esparta e a educação - Intolerância 


O guerreiro ferido

 Qualquer fraqueza demonstrada era vista como pusilanimidade, algo veemente repelido do seio daquela sociedade. Para corrigir eventuais defeitos de comportamento e possíveis hesitações, os instrutores recorriam à sinistra presença do mastigáphoroi (mastigaphoroi), o “portador do látego”, encarregado em aplicar chibatadas e suplícios outros que eram estendidos inclusive às mulheres, paradoxalmente consideradas as mais livres e as mais endurecidas da Grécia Antiga.

A fim de dotar de coragem os seus infantes, os legisladores espartanos criaram a críptia (kryptia), um “esquadrão de extermínio”, que estimulava os jovens selecionados a caçarem, sozinhos ou em grupos, os hilotas , os escravos que por acaso andassem desgarrados ou que, de alguma forma, representassem pelo seu vigor físico uma ameaça à segurança deles. Localizados, eram vitimados pela espada ou pela lança, armas que o bando de jovens sempre traziam consigo. Na verdade, as operações da críptia não passavam de assassinatos legitimados. Foi essa liberalidade homicida, este direito dos mais forte matarem a quem bem entendessem, que fez com que dissessem que os “espartanos livres eram completamente livres, e os escravos, escravos até os limites.” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Agradecemos a sua participação!