A Revolução Francesa, pelo seu simbolismo e sua importância histórica, foi o acontecimento que marcou a transição do mundo moderno para o contemporâneo.
Vejamos as razões do status histórico atribuído a esse movimento:
Além de se constituir numa das três maiores nações do mundo no século XVIII, em população, poderio econômico e militar, a França representava o que havia de mais emblemático e estrutural da Modernidade: o Antigo Regime.
Com uma intervenção sistemática e rigorosa do Estado na economia, o mercantilismo, a despeito de ter propiciado uma riqueza exorbitante à França, tornou-se enorme entrave ao potencial econômico burguês. Por outro lado, os gastos da monarquia, sustentados pelo povo por meio de pesados impostos desde os tempos de Luis XIV, o “Rei-Sol” (1638-1715), tornaram-se insuportáveis.
Constituída por uma população entre 25 e 30 milhões de pessoas, e dividida ainda em estamentos medievais, a sociedade francesa era uma das mais desiguais da Europa.
O Terceiro-Estado carregando o Primeiro e o Segundo Estados nas costas |
O clero (Primeiro Estado) e a nobreza (Segundo Estado), juntos, compunham apenas 3% do povo.
A imensa maioria da população – burgueses, camponeses e sans-culottes (camada social composta por artesãos, aprendizes, operários, trabalhadores livres, pequenos proprietários, entre outros segmentos) – pertencia ao Terceiro Estado.
A estrutura econômica agrária e as relações sociais, ainda de tradição feudal, inviabilizavam a produção agrícola. Tais fatores, somados a um período de problemas climáticos, trouxeram fome a milhões de homens e mulheres, fadados à morte.
Em 1788, para tentar resolver a crise do país, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais (o Parlamento francês). Aproveitando o momento e o apoio popular, o Terceiro Estado passou a exigir a votação por cabeça e não por estado, como se fazia até então. É que, dessa forma, conseguindo apoios de parlamentares dissidentes da nobreza e do clero, poderia aprovar leis e medidas de seu interesse.
O encontro da Assembleia dos Estados Gerais em 5 de maio de 1789 em Versalhes. |
De fato, em 14 de julho de 1789, uma multidão invadiu a Bastilha, prisão-símbolo do absolutismo, libertando prisioneiros políticos e tomando as armas da fortaleza. Esse episódio assinala o dia da Revolução Francesa.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão |
O movimento revolucionário durou dez anos e passou por algumas fases, revezando o comando da Revolução entre os conservadores, os moderados e os mais radicais.
Em 1792, na etapa de governo da Convenção, Luís XVI, que tentara fugir e armar uma invasão ao país com apoio de tropas estrangeiras, foi julgado por traição à pátria, condenado à morte e executado na guilhotina.
A fase das reformas estruturais (agrária, eleitoral, educacional, entre outras) se deu durante o governo dos jacobinos (formado por representantes do povo e da pequena burguesia), os mais radicais entre os grupos do Parlamento, composto também pelos girondinos (alta e média burguesia) e pelo pântano (oportunistas que mudavam de posições de acordo com a conveniência do momento político).
A posição física em que cada um desses grupos se reunia no Parlamento acabou por designar as tendências políticas ainda hoje citadas para caracterizar movimentos, grupos e partidos políticos. Os jacobinos ocupavam a esquerda e o setor mais alto do plenário, por isso eram chamados também de “montanha”; os girondinos reuniam-se à direita; o grupo do pântano situava-se na parte mais baixa e central do Parlamento.
Foi no período da Convenção que se instaurou o momento mais violento, conhecido como fase do Terror. Cerca de 40 mil pessoas consideradas traidoras da revolução foram guilhotinadas, inclusive revolucionários jacobinos, como Danton. Por fim, moderados e conservadores, por meio de um golpe de estado, assumem o controle revolucionário em 1793. Eles acabam com o Terror e anulam as principais reformas jacobinas, afastando as massas do poder e beneficiando a classe burguesa.
Em 9 de novembro de 1799, Napoleão Bonaparte, líder do exército francês, promoveu uma manobra político-militar, conhecida como o Golpe do 18 Brumário, e assumiu o poder na França. Apoiado pela alta burguesia, tornou-se cônsul vitalício e, em 1802, proclamou-se imperador do país. Tornou-se um déspota.
O seu governo lembrou os velhos tempos do absolutismo em muitos aspectos. Mas Napoleão exercia o poder a favor da burguesia e não mais do clero e da nobreza como fazia a monarquia no tempo dos estamentos.
O golpe de Napoleão pôs fim à Revolução Francesa, mas não aos seus ideais, que inspiraram os principais movimentos revolucionários ocorridos no mundo até o século XIX. De oprimida e rebelde, a burguesia, à medida que promovia suas revoluções e se configurava como classe internacional, foi se tornando cada vez mais contrarrevolucionária, visto que conseguira se estabelecer definitivamente no poder. Para ela, as mudanças agora deveriam acontecer de forma lenta e pacífica.
Execução de Luís XVI. A cabeça do rei é exibida ao povo, como se costumava fazer com todos os executados. |
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